Diplomacia tortuosa - Editorial Jornal do Commercio
Diplomacia e Relações Internacionais

Diplomacia tortuosa - Editorial Jornal do Commercio


Diplomacia tortuosa
Editorial Jornal do Commercio, 9/10/2013

Quando as críticas aos rumos trilhados pelo Itamaraty nos últimos anos se transformam em consenso entre diplomatas de larga experiência, talvez seja o momento para uma arrumação. A política externa não pode ser pautada pela hostilidade, muito menos se o alvo é a maior economia do mundo e o maior parceiro comercial do Brasil. Se os EUA têm pisado na bola no tratamento à América Latina, não podemos incorrer no mesmo erro, nivelando por baixo. Como já disse a própria presidente Dilma, os laços culturais que unem brasileiros e o norte-americanos são maiores do que a transitoriedade imanente às políticas governamentais.
O alinhamento automático à agenda de nações como a Bolívia, a Venezuela, o Equador e Cuba não pode ser a prioridade da diplomacia brasileira. Por mais que seja necessário, como já afirmamos neste espaço, um posicionamento firme e coletivo dos povos latino-americanos contra os abusos que têm sido cometidos pelos EUA, em nome de uma sempre superdimensionada defesa dos interesses e da segurança dos norte-americanos, a nossa diplomacia não pode se restringir a isso. Ampliar o arco da atuação diplomática e da pauta brasileira no planeta não significa, de maneira alguma, compactuar com o ranço imperialista característico da Casa Branca, tampouco aceitar passivamente a invasão de soberania que representa a espionagem oficial dos órgãos de segurança chefiados por Barack Obama.
O esgarçamento das relações da potência do norte com o nosso continente deve-se em boa medida à atitude arrogante assumida pelos EUA. Mas para a diplomacia o mais importante não é o obstáculo, e sim, superá-lo. Como afirmou Henry Kissinger, "países não têm amigos, têm parceiros". O tom emocional de parte do continente, por motivações claramente ideológicas, contra a Casa Branca, não deveria ser replicado cegamente pelo Itamaraty. Até porque o Brasil não possui apenas liderança regional: cresce a importância brasileira no cenário global, e essa voz de precisa ser ativada, e se fazer ouvir, fora das queixas e de um comportamento anti-americanista convicto.
Além do mais, a suposta amizade com os irmãos latinos não evita que parcerias sejam desfeitas sem cerimônia. Foi o que ocorreu quando a Bolívia enxotou a Petrobras, e outras empresas se viram obrigadas a abandonar o país por absoluta falta de garantia institucional para exercerem suas atividades. A Venezuela não deixou por menos, e deu mostras de arrogância comparáveis às praticadas pelos norte-americanos, ou mesmo piores, sem que o Itamaraty reagisse com a contundência esperada.

Desta forma, o que se espera de uma diplomacia tortuosa é que retifique o seu caminho o quanto antes, pois o equívoco estratégico nesse campo traz repercussões de longo alcance em diversas áreas, contaminando relações comerciais que levaram décadas para se consolidar e estreitando as oportunidades de novos caminhos a serem abertos nas relações multilaterais.



loading...

- Itamaraty Bolivariano? Ou Diplomacia Partidaria? - Marcelo Coutinho
A decadência do Itamaraty petista Blog do Orlando Tambosi, 19/06/2014 Em artigo publicado no jornal O Globo, Marcelo Coutinho sugere mudança profunda na política externa, indicando seis pontos. Faltou concluir que, com o Partido Totalitário no...

- Diplomacia E Ideologia - Denis Lerrer Rosenfield
Diplomacia e ideologia09 de setembro de 2013 | 2h 12Denis Lerrer Rosenfield * - O Estado de S.PauloA diplomacia é uma arte de defesa dos interesses nacionais, no que tradicionalmente se considera a soberania de cada país. Como toda arte, tem de demonstrar...

- Critica Da Diplomacia Brasileira - Andre Araujo
Uma crítica severa da diplomacia brasileira: condena a adesão a ditadores do Sul, acusa de errática a política Sul-Sul de Lula, Amorim e Samuel, o que é uma inversão do que se se lê habitualmente nos meios acadêmicos e jornalísticos, onde...

- Politica Externa Brasileira: O Fantasma De Rio Branco
Não tenho esse culto pelo Barão, mas ele está sempre sendo usado pelos observadores como parâmetro para analisar a política externa do Brasil. Pode até servir, depende do gosto de cada um. O fato é que a atual política externa não se parece com...

- Mercosul: Dois Para Cá, Um Para Cá Tambem, Sempre Recuando...
Mercosul, o tango que desafinou Rubens Barbosa O Estado de S.Paulo, 09/08/2010 Sucessor de Lula terá de resolver os conflitos e a paralisia deixados por uma diplomacia de partido A América do Sul é, na retórica oficial, a principal prioridade da política...



Diplomacia e Relações Internacionais








.