Celso Amorim: a petite histoire diplomatica contado do seu proprio ponto de vista
Diplomacia e Relações Internacionais

Celso Amorim: a petite histoire diplomatica contado do seu proprio ponto de vista


Livro de Celso Amorim expõe bastidores da diplomacia
Ex-chefe do Itamaraty revela detalhes de seus contatos com representantes estrangeiros em tensas negociações
FILLIPE MAURO
Revista Época, 1/07/2013

Celso Amorim: 
Breves narrativas diplomáticas 
(Benvirá, 168 páginas, R$ 27)

No final de 2003, as difíceis negociações da Alca (Acordo de livre comércio das Américas) passavam por um raro momento de tranquilidade. A ideia de por fim às barreiras alfandegárias do continente ganhava um rumo mais equilibrado. Restava apenas negociar o funcionamento de um sistema de solução de conflitos sobre patentes. Em novembro, a delicada questão levou diplomatas da região à charmosa cidade de Lansdowne, nos Estados Unidos. Brasileiros e americanos ficaram responsáveis por redigir um texto que conciliasse os sócios do projeto. O então ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, não aprovou a versão final. Mesmo assim, o representante americano, Robert Zoellick, fez aquela versão circular entre os demais ministros. Amorim aborreceu-se e pediu uma revisão imediata, rejeitada por Zoellick. Irritado, Amorim levantou-se bruscamente, bateu com as mãos na mesa e decretou o fim das negociações.  
Episódios como esse são narrados por Celso Amorim em seu novo livro, Breves narrativas diplomáticas (Benvirá, 168 páginas, R$ 27). Amorim, hoje ministro da Defesa, recuperou de suas cadernetas os momentos de tensão que presenciou ao longo do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O livro revela a astúcia de autoridades estrangeiras e recorda conflitos existentes entre os próprios membros do governo Lula. “Ninguém é santo em uma negociação”, disse Amorim a ÉPOCA. A seu ver, as discussões em torno da Alca não prosperaram porque estavam “tortas”. “Tudo muito pesado para o Brasil e muito leve para os Estados Unidos.”
Ao longo da narrativa, Robert Zoellick é colocado como alguém engenhoso e astuto. Durante a Rodada Doha, da OMC, essas características teriam se acentuado ainda mais. Amorim afirma que o representante do comércio americano chegou a praticar “malandragens” no encontro. Zoellick tentava criar isenções para a agricultura americana, que já era, em parte, subsidiada pelo governo. Na visão de Amorim, houve momentos em que Zoellick chegou a ser “agressivo” e “rude”. Ele e Pascal Lamy, então chefe da OMC, criaram um padrão de comportamento “contundente” que ficou conhecido comoThe Bob and Pascal Show (O show de Bob e Pascal). Em meio às negociações, a chanceler japonesa levantou questionamentos a essa forma impaciente de conduzir a Rodada Doha. Zoellick respondeu que compreendia a oposição de países como Brasil, índia e Austrália, e acrescentou: “Mas o Japão... o Japão é um mero estorvo”. 
Zoellick não era a única pedra no sapato de Amorim. O chanceler afirma que sofreu oposição de ministros do governo Lula e até mesmo de seus colegas mais leais dentro do Itamaraty. Assim que assumiu o cargo, Amorim teve de se reunir com os então ministros Antonio Palocci, da Fazenda, Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, e Roberto Rodrigues, da Agricultura. Os três se opunham à ideia de menos engajamento com o projeto da Alca. Sob a liderança de Palocci, os ministérios econômicos insistiam que o governo apresentasse o quanto antes uma oferta de participação no novo bloco alfandegário. Ao lado de Amorim estava apenas seu secretário-geral, Samuel Pinheiro Guimarães. Clodoaldo Hugueney, hoje embaixador do Brasil na China e, à época, subsecretário para temas econômicos, acompanhou a posição de Palocci. Amorim diz que Hugueney, seu “compadre”, agravou seu isolamento ainda que fosse seu assessor.
Foi essa mesma falta de inocência nas negociações diplomáticas que dificultou a formação dos Amigos da Venezuela. O grupo de países foi idealizado por Lula no final de 2002, quando uma greve geral eclodiu na Venezuela e levou às ruas até mesmo militares que pediam a renúncia do presidente Hugo Chávez. As discussões foram tão difíceis que, ao serem concluídas, Amorim as chamou de “uma vitória diplomática”. A ideia era reunir líderes latino-americanos que apoiassem o diálogo e a conciliação para evitar a escalada da violência na Venezuela. Mas Chávez esperava algo diferente. Queria que, acima de tudo, seu governo fosse apoiado. “Chávez via os ‘Amigos da Venezuela’ como seus amigos e nós não achávamos que isso traria progresso”, afirma Amorim. 

Com a morte de Chávez, no início de 2013, e a suspeita eleição de seu vice, Nicolás Maduro, surgiu o temor entre países sul-americanos de que a Venezuela sofreria com uma nova crise institucional. Como a vantagem de Maduro sobre seu principal adversário, Henrique Capriles, foi de apenas 1,5 ponto percentual, as tensões entre oposicionistas e chavistas voltaram a se agravar. Amorim não acredita que as cenas de violência de 2003 voltarão a ocorrer. “Maduro não é uma pessoa difícil de se negociar e já houve uma tentativa de golpe na Venezuela, que fracassou.” Em 1994, quando Amorim ainda era chanceler do governo de Itamar Franco, presenciou uma cena que prenunciou o que foi a frustrada tentativa de tirar Chávez do poder. Ele e seu “compadre”, o embaixador Clodoaldo Hugueney, almoçaram com um grupo de empresários em Caracas e foram servidos com coquetéis e caipirinhas. O álcool subiu as veias, e os protocolos típicos dos encontros diplomáticos se amoleceram. Os empresários começaram a propor conspirações contra o então presidente, Rafael Caldera, político de centro que antecedeu Chávez. “Graças a Deus não me lembro do nome dessas pessoas”, diz Amorim.

Antes mesmo de assumir o Ministério das Relações Exteriores, Celso Amorim já era próximo do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Os dois se aproximaram na década de 1990, quando o Brasil presidiu o Conselho de Segurança das Nações Unidas e coordenou os painéis sobre o arsenal militar do regime de Saddam Hussein, no Iraque. Foi um período de intensa convivência, que Amorim classifica em seu livro como um caso de “quase cumplicidade”. Anos depois dos painéis do Iraque, que ganharam o nome de The Amorim Panels (Os painéis de Amorim), os dois voltaram a conversar. Trocaram opiniões sobre temas diversos, entre eles a guerra civil síria. Um desses encontros ocorreu em Genebra, após uma visita ao Líbano. Os dois concordaram na ocasião que uma solução para a questão síria só será possível se incluir o maior número possível de países da região. “Se países como Arábia Saudita, Irã e Turquia não fizerem parte da solução, um dia farão parte do conflito. Enquanto foi facilitador da ONU, talvez Kofi Annan não tenha conseguido ser mais explícito. Mas era nisso que eu e ele pensávamos.
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