Brasil desarrumado? Chame o batalhao dos "chatos" - Mansueto Almeida
Diplomacia e Relações Internacionais

Brasil desarrumado? Chame o batalhao dos "chatos" - Mansueto Almeida


Os economistas “chatos”
by mansueto
Há um grupo de economistas no Brasil que, tradicionalmente, são apontados por muitos como chatos porque gostam de lembrar uma lei máxima da economia: “não existe almoço grátis”. Eu conheço todos eles por circunstâncias diferentes.
Um desses economistas é o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Quando fui estudante na USP eu era louco para conhecê-lo, mas tinha medo de me aproximar dele. A clareza de pensamento do Pastore e sua critica, quase sempre correta, intimida um estudante de 23 anos de economia. O meu trauma foi solucionado quando nos conhecemos, em 2011, graças ao blog, e desde então temos mantido contato. Pastore é um dos economistas mais técnico e brilhante do Brasil e, apesar de seu vasto conhecimento, deixa à vontade o seu interlocutor no debate. Os seus relatórios são agradáveis de ler e baseados em análises econométricas rigorosas. Pode-se até discordar dele, mas duvido que alguém tenha coragem de insinuar algo sobre a qualidade de suas análises.
Outro do grupo dos “chatos” é o Alexandre Schwartzman. Fomos contemporâneos de USP e, para infelicidade dos estudantes, a sala do Alexandre era vizinho ao local do café, o que significa que todos nós levávamos bronca dele que queria estudar e ficávamos fazendo barulho na porta da sala. Só voltei a encontra-lo, em 2009, por circunstância do Blog. Trocamos alguns e-mails e de vez em quando nos encontramos. Perdi o medo das broncas do cafezinho!
O terceiro do meu grupo de economista chatos é o Fábio Giambiagi. Já escutei muita gente criticá-lo pelas suas posições em relação à reforma da previdência e pelo fato dele escrever sobre tudo em economia. Fábio escreve sobre tudo por dois motivos. Primeiro, ele lê sobre  tudo. Segundo, eles conversa com os melhores especialistas em todas as áreas. Tem um talento natural de descobrir pessoas jovens competentes e é, sem dúvida, o melhor editor de economia. Dada a sua imensa facilidade e disciplina para escrever é uma das pessoas que mais contribuem para o debate econômico no Brasil. Nos conhecemos, em 2004, quando ele estava no IPEA e desde então matemos contato.
O quarto economista chato é o Armando Castelar. Apesar de ambos sermos do IPEA, há um mundo entre o IPEA Rio e o IPEA Brasilia. Eu devo conhecer no máximo 5 ou 6 pessoas do IPEA Rio. Nos encontramos em 2011 em uma reunião da FIESP, em São Paulo. Armando é outro economista que gosta de olhar cuidadosamente para os dados e faz suas análises de forma desapaixonada. Faz aquelas perguntas lógicas que “acabam com a festa”. Antes de começar o ciclo atual de concessões, advertiu que os empréstimos subsidiados do BNDES deveriam ter como indexador um índice de preço porque, em algum momento, o governo teria que aumentar a TJLP que se deslocou fortemente da Selic e isso alteraria os subsídios das empresas que apostaram em uma tarifa menor, contando com subsídios elevados dos empréstimos do BNDES. Esse problema já chegou e está sem solução. Uma diferença de mais de 5 pontos de percentagem entre TJLP e Selic é insustentável.
Mas por que estou falando desses quatro economistas? Porque nas últimas discussões que tivemos e baseado no que eles escrevem este grupo sempre esteve mais pessimista do que eu em relação ao comportamento da economia para os próximos anos. Nesses últimos dias, confesso que comecei a “comprar” o cenário deles. O Brasil, a partir do próximo ano, vai precisar conciliar o aumento do superávit primário para algo como 2,5% a 3% do PIB; e fazer frente ao inevitável crescimento do gasto público não financeiro ligado às áreas de educação e saúde e passivos a serem reconhecidos – subsídios do PSI via BNDES, conta de energia, etc.
O que tudo isso significa? Uma busca desesperada por receita cuja primeira tentativa foi justamente a MP 627/2013 que trata da tributação do lucro de empresas no exterior (o economista Marcos Jank da brf fez um bom resumo do problema – clique aqui). Qual será o tamanho da mordida do Leão dependerá do sucesso no controle no crescimento do gasto, que por enquanto é incerto.
O meu cientista político preferido, Marcus André Melo da UFPe, acredita que não dá mais para tentar equilibrar o desejo de maior gasto com a necessidade de aumentar o primário via carga tributária e o ajuste vem pelo lado da despesa – clique aqui. Acho que ele subestima a capacidade da Receita de extrair impostos da sociedade, o uso da contabilidade criativa e superestima a real convicção da sociedade por um ajuste da despesa.
Há meses falo que o meu cenário para o Brasil é moderadamente otimista. Não é mais. " Senhor, eu tenho dúvidas". O próximo governo, seja ele quem for, tem uma agenda difícil pela frente. Será preciso muita convicção para arrumar a casa como foi feito em 1994/95, 1999 e 2003. Assim, os nomes da nova equipe econômica serão essenciais. Não é só questão de nomes bons, mas de nomes de economistas com independência (como Armínio Fraga e Henrique Meirelles) para até discordar de quem seja o presidente, que precisará de um esforço redobrado para se comunicar com a sociedade e viabilizar (i) aumento de carga tributária; e/ou (ii) controle do gasto. Nos dois casos, muita gente vai ficar com raiva.
Infelizmente, os economistas “chatos” parecem estar corretos. O Brasil está quebrado? Claro que não e o grupo acima não fala isso. Não era preciso o Krugman falar isso por dezenas (ou centenas) de milhares de dólares. Eu e outros falaríamos de graça. Mas os economistas que falam que tudo está bem não dizem absolutamente nada de concreto sobre como resolver a situação de conciliar aumento do primário com o desejo da sociedade por maiores gasto em educação, saúde e transferências. Acho até que muito deles adorariam ver a reencarnação dos seus ídolos que já se foram (como Keynes por exemplo) para solucionar os problemas. Sim, se você não sabe fique sabendo que há um grupo de economistas que tentam adivinhar o que Keynes pensaria, o que  Milton Friedman faria, se duvidar até o que Marx hoje falaria sobre o problema da renda dos 1% nos EUA. Não seria melhor simplesmente olhar para evidência empírica?
O próximo governo precisará escutar com mais cuidado os economistas "chatos". E claro que esses economistas não têm nada de chatos, apenas um grande defeito para alguns: eles gostam de falar a verdade e têm convicção do que falam. Em geral, eles mais acertam do que erram e, por isso, são respeitados. Eles têm a solução para os problemas do Brasil? claro que não e nem se propõe a isso. Mas eles sabem apontar na área macro o que está errado e alertar para o duvidoso sucesso de planos mirabolantes. Muita gente reclama deles, mas ninguém deixa de ler o que eles escrevem ou de conversar com eles.
De quem eu gosto mais? claramente do grupo mais espírita que quer convocar o espírito de Keynes (e o espírito animal) para resolver os nossos problemas e que sempre nos enche de otimismo e não falam de custo algum. Mas aprendo mais com os "chatos".
Sentiu falta de alguns nomes na lista dos chatos? é porque esses outros nomes não participam muito do debate de conjuntura apesar da presença maior que passaram a ter pelo seus artigos (Pedro Cavalcanti e Renato Fragelli) ou porque estão no meu grupo dos quase chatos: Samuel Pessoa, Marcos Lisboa, Ricardo Paes de Barros, Edmar Bacha, etc.
PS: vem ai um livro de dois dos economistas aqui mencionados. Vou comprar. ler, criticar e fazer propaganda.





loading...

- Ah, Esses Economistas Improvisados...em Contas Publicas...
Estrutura dos gastos públicos em 2013 e corte na despesa Mansueto Almeida17/09/2014Aqui vai mais uma vez um post sobre a estrutura da despesa pública para tentar mostrar para os economistas que acreditam em choque de gestão que tal “choque”, embora...

- Mansueto Almeida E As Verdades Desagradaveis
Parece que o Mansueto, como naquela história do banqueiro central, é o cara que, no auge da festa, chega para colocar água no choppe e diminuir o volume do som. Em todo caso, eu só o contesto numa coisa: economista deve sim falar sobre as consequências...

- Politica Economica: Entrevistas Com Economistas, 1 - Blog Mansueto Almeida
Debate na Revista Época Negócios – 117 de março de 2014 por mansueto A última edição da Revista Época Negócios nas bancas traz dez entrevistas com economistas de diferentes tendências e afinidades eleitorais. Antes de comentar as...

- A Tragedia Da "politica Industrial" Do Governo (politica?; Industrial?) - Mansueto Almeida
Keynesianos de botequim ainda acreditam que o governo é mais esperto que o mercado, e que ele pode desenhar e implementar uma política industrial ótima. Este economista, e Edmar Bacha, são mais realistas. Mas quem disse que os keynesianos de botequim...

- Divida Publica Dos Paises Avancados: E Ainda Querem Aumenta-la...
Apenas retirado do blog do economista Mansueto Almeida. Não preciso agregar nenhum comentário, tudo está dito: Dois Relatórios Interessantes Blog de Mansueto Almeida, 18/08/2011 Lí hoje o relatório “A situação fiscal dos países AAA” da Ventor...



Diplomacia e Relações Internacionais








.