Ainda a Mao Invisivel de Adam Smith - Joao Luiz Mauad
Diplomacia e Relações Internacionais

Ainda a Mao Invisivel de Adam Smith - Joao Luiz Mauad


Eu repostei meu texto sobre a "mão invisível" de Adam Smith, apenas porque um comentarista habitual acrescentou esta informação nesse post, e aproveito, de minha parte, para dar-lhe o devido destaque.
http://www.ordemlivre.org/2011/11/desmontando-sofismas-e-rebatendo-cliches/

Desmontando sofismas e rebatendo clichês

É muito frequente a acusação – normalmente perpetrada por intervencionistas tanto à esquerda quanto à direita – de que o liberalismo é uma filosofia “dogmática”, por incitar uma suposta fé irracional naquilo que apelidaram de “deus mercado”.  A estratégia sofísticada traz ainda, como corolário indispensável, o emprego decomentários sarcásticos fazendo referência à única coisa que essa gente conhece, ou já ouviu falar, sobre liberalismo: a famosa metáfora da “mão invisível”.  A armadilha é tão capciosa que já há até liberais defendendo o banimento daquela metáfora, com medo de serem mal interpretados.
Ora, qualquer um que já tenha lido “A Riqueza das Nações” sabe perfeitamente que a imagem da “mão invisível” não tem nada de dogmático ou metafísico. O que Adam Smith diz é que, na esfera comercial, os indivíduos estão permanentemente empenhados em empregar da melhor maneira os seus recursos, visando o maior lucro possível.  O que o agente econômico tem em mente, portanto, é o próprio interesse, e não o interesse social.  Porém, ao examinar o que melhor lhe convém, ele naturalmente acaba escolhendo o que é melhor também para a sociedade em geral, afinal a única forma de obter lucros num sistema de livre mercado é oferecendo bens e serviços de qualidade, a preços razoáveis, aos consumidores.  Em outras palavras, lucrará mais aquele que satisfizer, com mais eficiência, os desejos e necessidades dos demais.
Numa das passagens em que Adam Smith utiliza a metáfora, ele diz, literalmente, o seguinte: “Orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, [o empreendedor] visa apenas seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções… Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo”.
Eis o verdadeiro sentido da “mão invisível”.  É pela busca constante de seus próprios interesses que o empreendedor fomenta o interesse geral da sociedade, e não pela sua benevolência. Em sua mais famosa sentença, Smith escreve que “Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio negócio”.
A metáfora da mão invisível, portanto, não pretende explicar que o mercado seja um sistema intrinsecamente perfeito, um deus imune a falhas, ineficiências ou má gestão, que funciona independentemente do bom planejamento, gerenciamento, controle, etc. Pelo contrário, o mercado só funciona porque é um sistema extensiva e racionalmente planejado e bem administrado. Só que a administração capitalista se dá de forma pulverizada, através da ação de cada indivíduo, de cada empresa. Todo esse planejamento dos indivíduos, das famílias e das empresas é coordenado por um mecanismo sólido, autônomo e extremamente eficiente, denominado “sistema de preços”.
O mercado, como demonstrou Mises, não é um organismo público ou privado, nem tampouco qualquer associação, agremiação, corporação ou organização.  O mercado é um processo.  Numa economia onde prevaleça a livre iniciativa, cada agente planeja e age por si mesmo, sem que ninguém lhe diga o que deve ou não fazer. A coordenação das várias atividades individuais e a sua integração dentro de um sistema harmônico, que supra os consumidores com as mercadorias e serviços que eles demandem, é feita de forma espontânea, desde que guiada por uma estrutura de preços flutuantes e livres.
Não há nada dogmático ou misterioso nesse processo.  As únicas forças por trás do seu contínuo movimento são os julgamentos de valor dos vários indivíduos e as ações deles derivadas.  Como no livre mercado todas as ações são voluntárias, a única alternativa de que dispõe cada um dos agentes para maximizar os próprios ganhos (por mais paradoxal que isto possa parecer a alguns) acaba sendo o empenho para satisfazer as necessidades e desejos do próximo. A mágica, o segredo da eficiência do mercado está, portanto, na supremacia do consumidor.  Através da sua decisão de comprar (ou não comprar), os consumidores determinam não somente a estrutura de preços, mas também o que deve ser produzido, em que quantidade, qualidade e por quem.
Se o livre mercado e o sistema de preços dele derivado são capazes de disponibilizar uma gama inimaginável de bens e serviços para os consumidores, eles produzem também um vasto escopo de oportunidades para os empreendedores.  É pelas mãos desses personagens, nem sempre bem vistos pela sociedade, que a poupança se transforma em investimento, contribuindo para aumentar a produtividade da economia, os salários dos trabalhadores e, consequentemente, o padrão de vida de todos.
Os oponentes do liberalismo gostam muito de falar também em “tirania do mercado”.  Deve-se lembrar a eles, entretanto, que não existe tirania onde as trocas são voluntárias, mas somente onde há coerção – uso da força.   Se um ladrão o ameaça com uma arma, seu “pagamento” a ele será, obviamente, forçado, e só trará benefício a uma das partes.  Por outro lado, quando você adquire um produto qualquer no comércio, a troca de dinheiro por aquele bem é totalmente voluntária, sinal de que ambas as partes (consumidor e comerciante) estão se beneficiando dela.
A propósito, a qual dos exemplos acima se assemelha a situação em que o estado cobra impostos da população (uma atividade coercitiva por natureza), sem lhe devolver as respectivas contrapartidas em serviços?  A mim, pelo menos, parece claro que tirânico não é bem o mercado…

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ e profissional liberal (consultor de empresas).



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