Agricultura, industria, servicos - valor agregado e preconceitos bobos
Diplomacia e Relações Internacionais

Agricultura, industria, servicos - valor agregado e preconceitos bobos


Um leitor deste blog, Felipe Xavier, comentando sobre o post (abaixo) da "economia política da idiotice", formulou-me a seguinte pergunta"

Na sua opinião, professor, existe algum motivo razoável para essa preterição da agricultura em favor da indústria? O Sr. concorda com a visão de que ser um produtor de commodities representa um atraso para o país??

Respondo rapidamente, por falta de tempo, mas recomendo que o Felipe leia mais sobre a repartição setorial da economia -- eu mesmo já escrevi a respeito, em meu livro O Brasil e o Multilateralismo Econômico -- e sobre as noções de valor agregado e de produtividade em economia, que são simples, mas é preciso entender exatamente do que se está falando.

O preconceito contra a agricultura é tão velho quanto a revolução industrial, ou seja, tem mais de 250 anos; isso a despeito do fato que a agricultura movimentou todas as sociedades nos últimos 10 mil anos, continua fazendo seu dever de alimentar a humanidade e contribui também para os equilíbrios ambientais (quando administrada de forma correta, no plano ambiental e ecológico).

Os fisiocratas tinham a agricultura em alta conta, e acham que ela era a verdadeira criadora de riqueza. Não, não é, mas pelo menos eles não cometeram a bobagem de considerar, como Marx, que os serviços era "improdutivos", porque eles supostamente não agregavam valor ao produto (segundo sua concepção totalmente equivocada de basear a extração de mais-valia no ato físico da transformação da mercadoria.

É certo que o crescimento da produtividade apresenta taxas mais altas na indústria do que na agricultura (que é mais lenta a reagor a melhorias nos processos e nos produtos), mas os serviços também são de difícil mensuração metodológica, e nem por isso deixam de representar a maior parte da criação de valor em praticamente todas as sociedades. É certo também que a industria apresenta maiores efeitos em cadeia -- backward and forward linkages -- do que a agricultura, mas isso não é motivo para desprezá-la, ou achar que ela não pode desenvolver um país.

Pode. Não só pode, como o fez, com sociedades que se desenvolveram basicamente sobre a base de uma agricultura de alta produtividade, como a Dinamarca, a Nova Zelândia, a própria Holanda, assim como a Inglaterra de antes da revolução industrial. O Brasil, aliás, é uma prova disso, ainda que de maneira não convencional.
Nossa agricultura foi um setor muito atrasado da economia durante mais de 4 séculos, por deficiências estruturais e outras características que não vem ao caso, agora, explicitar.
Mas é um fato que a agricultura no Brasil tornou-se um setor bastante avançado, com muita agregação de valor, e incorporação plena de insumos e produtos da indústria e dos serviços. É ela praticamente que sustenta nosso saldo de transações correntes, é ela que nos projeta no mundo com tal força que seremos, pela primeira vez em cinco séculos, um país verdadeiramente estratégico, o que NUNCA fomos. E isso não apenas pela agricultura de alimentação, mas também pela produção de combustível de biomassa, os renováveis substituindo os fósseis, tão denegridos nestes tempos de preconceitos contra o aquecimento global...

Ser produtor de commodities não é necessariamente um atraso para o país, se ele possui capacidade "instalada" e vantagens comparativas nessa área. Mas se recomenda -- e qualquer pessoa inteligente diria isto -- que o país abandonne rapidamente as commodities (que possuem pouco valor agregado) e subam na escala tecnológica, para auferir mais renda do comércio internacional.
Assim, em lugar de minério bruto, produtos siderúrgico; em lugar de soja em grãos, alimentos processados; em lugar de carne in natura, cortes finos; em lugar de café em grãos, solúvel e processados, ou cafés especiais. Enfim, a agricultura NÃO tem por que ser atrasada, pois ela não é.
Quem são atrasados são os homens...
Isso dá para mudar...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 30.08.2010)



loading...

- Agronegocio Brasileiro Cresce; Mst Definha...
Esta é a agricultura da qual o MST tem ódio; seus líderes querem acabar com as exportações agrícolas, achando que pode faltar internamente. Na verdade, eles são contra o comércio de produtos agrícolas, achando que cada país deva ser autosustentável....

- O Brasil Vai Alimentar O Mundo? - Artigo De Marcos S. Jank
Provavelmente, mas isso depende... Depende de muita coisa: de melhorarmos nossa produtividade, de deixarmos de ser um país caro, de parar de tributar excessivamente as atividades produtivas e de muitas outras coisas mais, que dependem apenas de nós...

- Desindustrializacao: Um Debate Importante
Recebi, a propósito deste meu post: SEXTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2012O fantasma da desindustrializacao - Alexandre de Freitas Barbosa o seguinte comentário: Eu sou bastante cético com esse negócio de desindustrialização. Não tenho dúvidas de...

- Deterioracao Tecnologica Da Industria Brasileira
Esvaziamento tecnológico Roberto Nicolsky O Globo, 4/06/2011 A competência tecnológica relativa de uma economia é avaliada principalmente pela qualidade do seu comércio exterior, ou seja, pelo seu desempenho nas relações com outras economias mais...

- A Agricultura E O Brasil - Senadora Katia Abreu
Na sequencia da postagem anterior, a íntegra do artigo da Senadora Katia Abreu, que merece comentários mais elaborados (o que procurarei fazer tão pronto possível). Paulo Roberto de Almeida O que houve de novo com o Brasil Kátia Abreu O Estado de...



Diplomacia e Relações Internacionais








.