Across the Empire, 2014 (21): Detroit, a Paris (falida) do MidWest?
Diplomacia e Relações Internacionais

Across the Empire, 2014 (21): Detroit, a Paris (falida) do MidWest?



Across the Empire, 2014 (21): Detroit, a Paris (falida) do MidWest?

Paulo Roberto de Almeida

Prosseguindo nosso (longo) caminho de volta, hoje, 18 de setembro, dia do referendo escocês (ouvi pela rádio que o “não estava ganhando por 53%, mas que só na manhã de sexta 19 teríamos os primeiros números oficiais, pois a contagem é manual), Carmen Lícia e eu saímos de Manistique no final da manhã, não sem antes algumas últimas fotos de despedida desse ponto mais extremo na extremidade norte do lago Michigan: um farol e alguns alces muito bem vestidos em frente a restaurantes e hotéis da cidade. Eu, por exemplo, fiz uma foto deste Alce fêmea, ou Madame Alça, em frente do nosso hotel, mas havia outros, alguns bastante engraçados, como um senhor Alce de smoking (tuxedo).

Empreendemos então o largo trajeto em direção ao sul, começando por atravessar a ponte sob a qual se faz a junção do lago Michigan com o lago Huron, e depois descemos pela I-75 até Detroit, na extremidade oriental de Michigan, às portas do Ontário canadense, junto à cidade de Windsor.
Vocês acreditam mesmo que os responsáveis locais pela propaganda da cidade ainda têm a petulância de chamar esta cidade de “Paris do MidWest”? Ou que ela seria a “Meca da gastronomia” da região? Vejam, a propósito, esta foto da capa da revista de turismo local.
Eles deliram, ou acreditam mesmo? Esta cidade está simplesmente falida, e sua dívidas chegam a mais ou menos 18 bilhões de dólares aos seus credores, que são tanto os fornecedores de bens e serviços para a prefeitura, quanto os pensionistas do setor público e de suas agências subordinadas e os muitos provedores dos serviços urbanos e de infraestrutura coletiva. Quando lemos, alguns meses atrás, sobre a bancarrota anunciada da cidade, quando ela foi colocada sob intervenção judicial e entregue a um gestor da massa falida – como tal, encarregado de negociar os débitos, déficits e passivos da cidade – as matérias todas falavam dos edifícios vazios, das casas abandonadas, do lixo acumulado nas ruas e de outras misérias, inclusive com fotos espetaculares; a impressão que se tinha era que isto aqui seria uma Síria do MidWest, ou quase uma cidade fantasma.
Falava-se inclusive na venda em leilão dos quadros mais famosos do Detroit Institute of Arts – como sempre, impressionistas franceses – cuja valor estimado representaria algumas centenas de milhões, um pingo de compensação em face das quase duas dezenas de bilhões de dólares da inadimplência oficial (isto apenas o registro do balanço, mas potencialmente muito mais, como resultado dos negócios fechados). A ex-cidade do automóvel faria figura de destaque nos melhores filmes-catástrofe sobre as distopias da modernidade.
Tanto era assim que, ao viajar a Chicago em maio último, para um congresso da LASA, fizemos questão de voltar por aqui, para verificar o estado “sírio” da cidade, e visitar o museu de arte antes que fechasse. Como sempre, os jornalistas pintam um quadro mais negro do que o verdadeiro, e escolhem as piores fotos para ilustrar o caos urbano. Não vimos nenhuma cena “síria”: muitos prédios com tapume, certo, e algumas casas abandonadas, mas uma cidade normal, inclusive com novas obras públicas e reformas privadas sendo empreendidas, talvez já como resultado na queda nos preços dos imóveis e boas oportunidades de ganhos futuros.
Desta vez viemos para conhecer melhor a cidade, e nos hospedamos por dois dias no Atheneum Suite Hotel, bem no centro da cidade, e ao lado de um cassino grego (por uma vez não é de índio capitalista). O Hotel tem no seu lobby um imenso painel de Lacoonte, imitando grosseiramente uma famosa estátua de Fídias, que vimos em Roma, se bem me lembro, e creio que no museu do Vaticano. Faz parte do kitsch americano. Os gregos, e os African-Americans, dominam no bairro, mas o ambiente está longe de ser distópico.
Programa local? Tem vários, mas o essencial se refere ao já citado Institute of Arts, que pode eventualmente ser usado como colateral na renegociação das dívidas, e o complexo Henry Ford, em Dearborn, algo como 15 milhas a leste, no caminho de Chicago, precisamente. É o que pretendemos fazer nesta sexta-feira.
Depois, é o Canadá, como já anunciado, para visitar o novo museu Aga Khan em Toronto.

         Paulo Roberto de Almeida
Detroit, 18 de setembro de 2014



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