A geopolitica de uma nova Guerra Fria entre o "bloco" China-Russia e os EUA? - Marcos Troyjo
Diplomacia e Relações Internacionais

A geopolitica de uma nova Guerra Fria entre o "bloco" China-Russia e os EUA? - Marcos Troyjo


Discordo de dois elementos neste artigo: (a) de que a China seja uma nação-comerciante; (b) de que os dois novos aliados, China e Rússia, tenham encontrado a fórmula do eterno crescimento, uma afirmação aliás não contida neste artigo de Marcos Troyjo.
Para que uma nação seja um comerciante bem sucedido, não pode ser apenas intermediário, ou seja, é preciso produzir bens reais. A parte de produtos "estrangeiros" produzidos na China é provavelmente gradualmente menor do que os produtos propriamente chineses. Ou seja, o made in China vai ficando menor em relação ao made BY China. Esse é um fato.
Não creio, por outro lado, que grandes acordos governamentais, por mais bilhões que possam movimentar, representem o futuro do capitalismo (e não vejo outro futuro para os dois novos aliados).
A dinâmica do crescimento é sempre a da inteligência e da criação. Isso a China está fazendo, o que é duvidoso no caso da Rússia. Mas mesmo no caso da China, não creio que seja uma boa fórmula o capitalismo dirigido pelo Estado. Vão gastar dinheiro tomando decisões erradas, isso é inevitável.
Paulo Roberto de Almeida

O urso e o dragão
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta, 23 de maio de 2014

Quebrar a espinha-dorsal do comunismo como força geopolítica. Topo da agenda da política externa norte-americana durante a Guerra Fria. 

Encontros secretos entre Kissinger e Chou-En-Lai nos anos 70 abriram avenida entre EUA e China -- e esta desacoplou-se do bloco comunista. 

Ante o potencial de relacionamento com o Ocidente, Pequim distanciou-se ainda mais de Moscou. Aprofundou-se o "Cisma Sino-Soviético". 

Desde então, a China embarcou num crescimento estonteante graças a seu modelo, agora em metamorfose, de Nação-Comerciante. 

A Rússia perambulou entre a memória de seu status como superpotência político-militar e a promessa -- não cumprida -- de prosperidade sustentada em formidáveis recursos humanos e energéticos.

Hoje, os dois gigantes voltam a aninhar-se. Para dissabor dos EUA, foi a Moscou que Xi Jinping fez sua primeira visita ao exterior como premiê. 

Nesta semana, Putin foi recebido na China como czar. Xangai foi fechada, aulas canceladas e feriado decretado para a visita do titular do Kremlin.

Constrangido no Ocidente pela mão pesada na Ucrânia, Putin saudou o relacionamento com Pequim como "prioridade incondicional da política externa russa". Acrescentou: elos com a China encontram-se no "nível mais elevado da História".

Os chineses aproveitaram as novas limitações russas no comércio com o Ocidente para barganhar num acordo de fornecimento de gás que se arrastava há 10 anos.

O negócio alcança US$ 400 bilhões. Foi concluído às pressas para que Gazprom e CNPC, megacorporações energéticas, o assinassem perante Putin e Xi Jinping.

Pequim e Moscou realizam manobras navais conjuntas. O comércio bilateral saltará dos atuais US$ 90 bilhões para US$ 200 bilhões em 10 anos.

Nos EUA, ninguém parece entender o que está acontecendo. Think-tanks como o Council on Foreign Relations e o Chicago Council on Global Affairs colocam os EUA no divã. 

Promovem "auto-análise" que opõe, de um lado, visão de política externa orientada pela opinião pública. Esta não quer encarar o preço da onipresença dos EUA.

Do outro, consolida-se a percepção nos setores mais treinados em assuntos globais de que esses movimentos da Eurásia fazem "renascer a geopolítica". Pregam reengajamento dos EUA mediante novo -- e caríssimo -- orçamento para relações exteriores e defesa.

Ganha corpo também, no mundo corporativo, a ideia de que sanções impostas a Putin criam "reserva de mercado" para potências não-ocidentais multiplicarem transações com a Rússia.

A política "principista" de Washington repetiria erros do tratamento dado a Cuba. Daí, o pior de três mundos. Afastamento no diálogo político, surgimento de projetos geoestratégicos alternativos e definhamento das relações econômicas.

Moscou reconforta-se na parceria chinesa. Pequim compraz-se ao ver os EUA rodopiarem na arena global feito barata tonta.

O Brasil, inocente, não pode vislumbrar no dueto urso-dragão idílio terceiro-mundista. São apenas dois monstros calculistas bailando à fria melodia de seus próprios interesses.


http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2014/05/1458741-o-urso-e-o-dragao.shtml



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