"Fundamento Liberal": o inimigo a ser abatido
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"Fundamento Liberal": o inimigo a ser abatido


Estou cada vez mais surpreendido com o pensamento dos jovens -- e de alguns menos jovens -- no Brasil atual.
Ao postar uma matéria de jornal sobre os resultados da PNAD-IBGE e comentar sobre as políticas de apoio social do governo, recebi um comentário de uma leitora que se declarou frustrada, e enganada, pelo fato de que a "essência das [minhas] falas e comentários são de fundamento liberal".
Ela lamentava, então, ter ingressado no meu blog para ler a matéria, e os comentários a respeito da matéria, terminando assim:
"Pretendo não voltar a visitá-lo e lamento ter contado como número de acesso a este blog."

Toda a história está neste post:
Liberalismo: um grave pecado político e econômico (quarta-feira, 29 de setembro de 2010)

Já respondi o que achei que deveria a essa leitora de uma nota só, que no entanto não vai ler minha resposta e tampouco este comentário adicional.
Não importa, vou comentar mesmo assim.

Devo dizer, antes de tudo, que não me considero um liberal, tampouco um neoliberal (que não existe, claro), ainda que muitos acreditem que sim, apenas com base em meus comentários e artigos.
Não tenho afeição por nenhum rótulo, não me considero preso, ou vinculado, à qualquer ideologia política, não faço parte, nem nunca farei, de qualquer partido, nem me prendo a movimentos grupais, quaisquer que sejam eles. Sou apenas eu e meus neurônios funcionando (espero que satisfatoriamente).
A única coisa que poderia me definir seria ser "racionalista" (seja lá o que isso queira dizer), o que entendo seja mais um método do que um conjunto de proposições ordenadas e sistemáticas.
Ser racionalista é considerar cada problema humano, cada questão social em sua dimensão própria, em seu contexto apropriado, em suas relações de causa a efeito (se houver) e, a partir daí, ordenar um conjunto de respostas ou medidas adequadas que possam responder a este ou aquele desafio humano e social. Apenas isto.

Se algumas dessas respostas tiverem qualquer "fundamento liberal", não me preocupo mais da conta em mobilizar argumentos liberais ou posições do liberalismo -- não como um fim em si mesmo, compreenda-se -- para torná-las práticas e efetivas, na convicção de que aquelas posições são as mais racionalmente adequadas à solução ideal que se espera implementar.
Se, em outras circunstâncias, as melhores respostas forem de "base socialista", também não teria nenhuma dificuldade em propô-las, se elas corresponderem de fato à melhor saída "cost-effective" para o problema detectado.
Ou seja, não me prendo a uma classificação prévia, "religiosa", para analisar, julgar e responder a um desafio qualquer.
Não se trata de mero pragmatismo, pois existem valores que nos fazem desistir de adotar certas soluções que, por exemplo, podem impor muito sofrimento a outras pessoas, ou que transfiram os custos para nossos descendentes que ainda nem nasceram. Valores não são racionais, mas correspondem a princípios que defendemos que independem de uma análise racionalista, ou econômica, do problema.

Sou racionalista, portanto, tanto quanto me permitem meus neurônios e meu conhecimento da realidade, sempre ajustada em função de novas leituras, descobertas, pesquisas ou, como eu digo sempre, aprendendo nos livros ou com gente mais esperta do que eu.

Por isso mesmo eu não compreendo alguém que, sem julgar do mérito de uma análise qualquer, descarta o conjunto por possuir, repetindo, "fundamentos liberais".
Seria como se o liberalismo fosse uma peste, uma doença altamente contagiosa, que convém afastar e eliminar.
Pois é, tem gente assim. Curioso que eu encontro mais gente assim nos intolerantes fanáticos -- que no limite se tornam fascistas, ou terroristas -- e nos assim chamados "socialistas", do que entre os liberais, que costumam ser bastante tolerantes com as crenças alheias. Isso porque os liberais prezam, justamente as liberdades individuais e acham que cada pessoa tem o direito de exibir suas crenças em quaisquer circunstâncias (desde que não cerceie o direito de outros de também fazê-lo).

Nesse ponto, sou anarquicamente liberal: não apenas acho que todos devemos ser autônomos em nossa maneira de pensar, como recuso, em especial, as regras de hierarquia que nos fazem "aderir" as ideias de supostos superiores, ou chefes de ocasiao. Isso eu não aceito.
Talvez eu seja um anarco-liberal...

Paulo Roberto de Almeida



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